24/11/2016 Parsival e as Lendas do Graal
PARSIVAL E AS LENDAS DO GRAAl
Nota introdutória: Neste ensaio, todos os trechos em
destaque foram extraídos da obra Na Luz da Verdade, a Mensagem do Graal de
Abdruschin, publicada pela Ordem do Graal na Terra. Sempre que a palavra “dissertação” é mencionada, o autor
está se referindo à Mensagem do Graal. Quando a dissertação não é mencionada no
texto, o respectivo título aparece entre parênteses, ao nal do trecho destacado.
Quem já
estudou a Mensagem do Graal, sabe que se um pensamento emitido com força
anímica for puro, então, em seu percurso elíptico pelo Universo poderá entrar
em contato com pensamentos mais elevados e deles receber influências, as quais,
irradiando retroativamente pelo cordão de ligação com o gerador, desencadeiam a
chamada "inspiração". A inspiração, portanto, também não é algo
estritamente pessoal, mas sim obtida pelo próprio pensamento básico, que em sua
trajetória inicial ascendente (devido à sua pureza intrínseca) encontra
pensamentos de igual espécie mais elaborados.
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Foi o que
ocorreu na recepção do saber a respeito de Parsival e do Graal, que os poetas
medievais transcreveram em suas sagas. Eles receberam inspirações a respeito de
acontecimentos elevados, porém permitiram que o raciocínio interferisse nessa
recepção, o que impossibilitou a correta compreensão dos fenômenos. Na
dissertação “Os planos espírito-primordiais I”, podemos ler essa passagem
esclarecedora:
“Tomemos,
pois, a lenda a respeito de Parsival! Partindo desta pequena Terra, em
pensamento, procura o ser humano pesquisar e
encontrar algo a respeito de Parsival, para descobrir a origem, o
surgimento dessa lenda.
Certamente os
poetas da Terra imaginaram pessoas terrenas, que lhes deram um impulso externo
para a forma do poema; contudo, em
seu trabalho de aprofundamento espiritual, colheram inconscientemente algo de
fontes que eles próprios não conheciam.
Todavia, como
nalmente procuraram melhorá-lo com o raciocínio, para assim torná-lo terrenalmente belo e facilmente
compreensível, o pouco que eles puderam receber dos planos desconhecidos foi
também comprimido, diminuído e deformado na matéria grosseira.”
Na
dissertação “O circular das irradiações”, encontramos a seguinte
complementação:
“Ocorre
nessas descrições o mesmo que em tudo o que os seres humanos terrenos fazem,
como também ocorreu na descrição dos acontecimentos em torno de Parsival e do
Supremo Templo do Graal: aos seres humanos que se aprofundam espiritualmente
são dadas inspirações, que não conseguem compreender claramente e as quais
então simplesmente, na retransmissão já distorcida por essa razão, comprimem
nos acontecimentos, hábitos e costumes que lhes são terrenalmente conhecidos,
ocasião em que o raciocínio, em especial, não perde oportunidade para
contribuir com sua parte não pequena.”
Sobre os
erros transmitidos a respeito desse Supremo Templo do Graal, ou Castelo do
Graal, constata-se que são os mesmos
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observados a
respeito da figura de Parsival. Ambos os conceitos foram condensados nos
limites de compreensão das pessoas que receberam as respectivas notícias,
mediante inspirações. Os acontecimentos foram “terrenalizados” por assim dizer,
de modo a se tornarem mais compreensíveis aos seres humanos terrenos. O trecho
a seguir está na dissertação “O mundo”:
“E como
último, porém, como o mais elevado dessa Ilha Azul, existe, inacessível para os
não-eleitos, o Supremo Templo do Graal, já mencionado tantas vezes nas poesias!
(…)
Através de
revelações, a notícia da existência desse Templo desceu por muitos degraus o
longo percurso dessa Ilha Azul, atravessando o mundo de matéria
na, até chegar
nalmente aos seres humanos da Terra de matéria grosseira, mediante a inspiração profunda de alguns poetas. De degrau em degrau, transmitida para baixo, a Verdade acabou sofrendo, involuntariamente, várias des gurações, de modo que a última transmissão pôde permanecer somente um
re exo várias
vezes turvado, que se tornou a causa de muitos erros.”
Na
dissertação “O Santo Graal”, Abdruschin explica que uma adequada compreensão do
Graal não pode surgir de um esforço de pesquisa de baixo para cima, partindo da
Terra em direção a planos mais elevados, mas sim apenas em sentido inverso, de
cima para baixo:
“Tudo quanto
se esforça de baixo para cima tem de se deter no limiar da matéria, mesmo que
lhe haja sido outorgado o que de mais elevado possa obter. Na maioria dos
casos, porém, mesmo com as mais favoráveis condições preliminares, mal pode ser
feita a metade desse caminho. Quão longo, no entanto, ainda _ca o caminho para
o verdadeiro reconhecimento do Santo Graal!
Essa intuição
da inacessibilidade se manifesta, por m, nos pesquisadores. O resultado disso é
que procuram conceber o Graal como sendo uma designação puramente simbólica de
um conceito, a
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m de lhe dar
assim aquela altitude, cuja necessidade para tal designação intuem com acerto.
Com isso, porém, na realidade, vão para trás, não para frente. Para baixo, ao
invés de para cima. Desviam-se do caminho certo já contido em parte nas
composições poéticas.”
As
composições poéticas medievais sobre o Graal trilharam em parte o caminho certo
para a compreensão, porque foram elaboradas com base em inspirações mais
elevadas, portanto de cima para baixo. Porém, conforme dito, o reconhecimento
real se tornou impossível devido à forte materialização do que foi recebido
pelos poetas como inspiração. Na sequência dessa dissertação “O Santo Graal”,
lemos o seguinte esclarecimento a respeito dessas composições poéticas:
“Somente
estas deixam pressentir a verdade. Mas apenas pressentir, porque as elevadas
inspirações e as imagens visionárias dos poetas foram demasiado materializadas,
na transmissão, pela ativa participação do raciocínio. Deram, à retransmissão
daquilo que foi recebido espiritualmente, uma imagem do ambiente terrenal
contemporâneo, a lm de tornar o sentido de suas obras poéticas mais
compreensível às criaturas humanas, o que apesar disso não conseguiram, porque
eles próprios não puderam se aproximar do núcleo propriamente dito da verdade.”
Na
continuação da mesma dissertação, Abdruschin informa como as lendas do Graal
deveriam ter sido interpretadas:
“Deviam ser
promessas provenientes de elevadíssimas alturas, cujas realizações as criaturas
humanas têm de esperar! Tivessem sido interpretadas como tais, então
certamente, já há muito, outro caminho teria sido também encontrado, que
poderia conduzir as pesquisas ainda um pouco mais adiante do que até agora.”
A história da
vinda de Parsival deveria ser, portanto, uma importante profecia, uma promessa
do Alto a ser realizada numa bem determinada época futura. Que assim não tenha
vista deveu-se, pois, à terrenalização das narrativas pelos poetas das lendas e
à suposição
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dos
pesquisadores de que elas tratavam de algo meramente simbólico.
A primeira
das composições poéticas do que ficou conhecido como “Ciclo do Graal”, e uma
das mais importantes, foi elaborada pelo francês Chrétien de Troyes no século
XII, com o título Perceval ou Le Conte du Graal — “Parsival ou O Conto
(romance) do Graal” —, escrita provavelmente
entre 1181 e 1191. Perceval é a
grafia francesa do nome Parsival. Várias outras narrativas surgiram no século
seguinte, como Perlevaus (também
conhecida como “A elevada história do Santo
Graal”), composta por volta de 1220, e até bem mais para frente, como Percyvelle, romance inglês surgido no
século XIV, apenas para citar dois exemplos de uma extensa série.
Pois bem. No
romance de Troyes, Parsival é apresentado como um adolescente rude e bastante
ingênuo, um jovem caçador que vive numa “erma floresta solitária”. Só o fato de
o poeta retratar a figura de Parsival como um caçador já mostra quanto ele
terrenalizou, sem perceber, a inspiração inicial que obteve em seu
aprofundamento espiritual.
O Perceval do romance de Troyes é criado
por sua mãe fora dos domínios da civilização, isolado de tudo e de todos numa
floresta. Ele mantém contato apenas com sua mãe e alguns lavradores. Por isso,
quando finalmente começa a explorar o mundo e encontra representantes da
cavalaria, nada compreende da visão de cavaleiros e suas armaduras. Assim, a
impressão que ele dá é, realmente, de possuir uma ingenuidade completa diante
de tudo e de todos.
O que
aconteceu aqui é que Chrétien de Troyes assimilou algo do processo de
preparação da vinda de Parsival, o Filho do Homem prometido por Jesus, à Terra.
Os preparativos para a missão do Filho do Homem no Juízo vinham já de milênios,
mas a preparação especial para sua encarnação na Terra vinha desde as alusões
diretas feitas por Jesus sobre a necessidade de sua vinda. Na dissertação “O
Estranho” encontramos o seguinte relato:
“Com sério
espanto, um jovem contemplava, lá do Supremo Templo, o ignominioso
acontecimento… o futuro Filho do Homem.
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Já nesse
tempo ele estava entregue a seus preparativos que levaram milênios, pois
deveria descer bem aparelhado para os baixios onde, por vontade dos seres
humanos, as trevas reinavam.”
As primeiras
alusões de Cristo sobre a vinda do Filho do Homem estavam relacionadas
estritamente ao Juízo. Para tanto, não teria sido imprescindível que ele
encarnasse na Terra. Vindo “pelas nuvens”, permanecendo acima da Terra, poderia
ter cumprido sua missão, conforme antevisto pelo profeta Daniel, no século V
a.C.: "Eu continuava contemplando, nas minhas visões noturnas, quando
notei, vindo sobre as nuvens do céu, um como Filho do Homem" (Dn7:13). A
vinda propriamente do Filho do Homem à Terra, para anunciar aqui a Verdade, foi
registrada por João em seu Evangelho (cf. Jo16:12-15).
Na época do
profeta Daniel, portanto, somente estava previsto que o Filho do Homem “viria
pelas nuvens”, isto é, que se aproximaria dos planos materiais a fim de neles
fazer valer a vontade de Seu Pai na época do Juízo Final, destruindo todas as
trevas, sem a necessidade de uma encarnação para tanto. Era esta a missão
original dele (também captada pelos poetas das lendas medievais do Graal), em
atendimento às súplicas dos seres que vivem e atuam em planos espirituais
situados acima do Paraíso, os primordialmente criados.
“Para consolo
dos primordialmente criados, desesperados por causa da crescente imperfeição da
Criação posterior, a qual se fazia sentir cada vez mais, clamava-se do divinal:
‘Aguardai aquele que Eu escolhi… para vosso auxílio!’ Assim como, razoavelmente
nítido, transmite a lenda do Graal como tradição proveniente da Criação
primordial.”
(No reino dos demônios e dos
fantasmas)
A ingenuidade
retratada por Troyes em seu romance a respeito de Parsival decorreu de um
aspecto próprio e previsto da missão de Parsival, não reconhecido pelo poeta,
que foi a colocação de uma venda de matéria fina em sua descida do ápice da
Criação.
“Quando
Parsival, em sua peregrinação para baixo, alcançou o limite onde começava a
matéria, isto é, a região dos espíritos
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humanos
desenvolvidos dos germes espirituais, chegou ao local onde se mostravam pela
primeira vez os efeitos das correntezas das trevas, que também já tinham tocado
em Amfortas.
(…)
Ao
entrar nesse plano, a colocação necessária de um invólucro da mesma espécie de
matéria, se bem que aí ainda bem leve, foi para Parsival igual a uma venda, que
apagou passageiramente todas as lembranças de tudo situado mais acima.
Vindo da Luz,
estava ele em sua pura ingenuidade diante do mal, que desconhecia por completo,
e somente poderia tomar conhecimento dele através do sofrimento indispensável.
Tinha de aprender arduamente, através disso, do quanto são capazes os espíritos
humanos.”
(Os planos espírito-primordiais
III)
Nesse ponto,
Parsival estava diante do mal, que grassava em toda a Terra e alcançava até as
regiões mais altas da matéria fina, armado apenas de sua “pura ingenuidade”.
Neste plano mais elevado da matéria fina, Parsival parecia exteriormente não
ser mais do que um “ingênuo”, um “néscio”, porque não tinha nenhuma compreensão
para a existência do mal, visto ter ele próprio se originado da Luz, a qual
sequer conhece as trevas. Por isso, está dito no romance francês: “quem o vê, o
toma por tolo”. Na história de Troyes, Perceval
não tem certeza nem mesmo de sua própria identidade, apesar de sua mãe lhe ter
dito que “pelo nome se conhece o homem”.
É assim que o poeta francês enxerga as consequências da venda fino-material
colocada sobre Parsival, evidenciadas exteriormente como um moço extremamente
ingênuo, que não conhece nada da vida. Dele, o rei chega a falar: “Ele é ingênuo e sem modos, mas atrai
invejosos. Não saberá se defender e
em breve será vencido, morto ou ferido.”
Foi essa
contingência exterior de ingenuidade que Chrétien de Troyes hauriu da
verdadeira missão de Parsival e tentou descrever em termos romanceados,
mesclando-a com histórias já existentes sobre o rei Arthur.
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Na narrativa
francesa vemos que, aos poucos, Perceval vai interagindo melhor com as pessoas e
com o ambiente, o que indica uma gradativa compreensão de como atuar naquele
mundo a ele tão estranho e hostil. Ele acaba saindo vencedor em todas as
contendas que se envolve, sendo chamado “soldado de única Verdade”. Por fim, o
jovem cavaleiro consegue reverter uma situação catastrófica da “terra nua e
desolada, com ruas desertas e casas em ruínas”, na qual “a desventura abate-se
sobre homens probos” e onde “os maus, os covardes e os desonrados não caem, tão
baixo que já estão”. Ele restabelece a paz, a saúde e a alegria para todos no
reino. É tratado como “salvador” e coroado como “Rei do Graal”.
Antes de Perceval sair pelo mundo, sua mãe havia
lhe dito que “ninguém pode fazer bem algo
que não aprendeu”. Trata-se de um ensinamento válido em qualquer circunstância,
inclusive para um enviado das Alturas em sua descida para os confins das
materialidades.
Para que
pudesse aprender realmente do quanto são capazes os seres humanos, como
vivência imprescindível para posteriormente poder indicar à humanidade — por
meio de sua Palavra — o caminho de saída do labirinto dos erros por ela mesma
construído, uma venda de matéria fina foi também colocada em Parsival, em tenra
idade, quando já encarnado na Terra, permanecendo com essa venda durante seu
duro tempo de aprendizado:
“Movimentos
jubilosos nos elementos anunciaram o nascimento terreno. Anjos acompanharam-no,
cheios de amor, na sua descida até esta Terra. Os seres primordiais formaram
uma sólida barreira ao redor dele e de sua infância terrestre. Sua infância
terrestre pôde ser feliz. Como uma saudação de Deus-Pai via de noite o cometa
cintilando sobre si, contemplando-o como uma coisa natural, como parte dos
demais astros, até que lhe foi posta a venda nos olhos, a qual deveria manter
durante sua amarga educação terrestre.
(…)
Com a venda de matéria
na diante dos olhos, encontrava-se então em terreno hostil em frente às trevas, num campo de luta em que as trevas todas podiam ncar os pés mais rmemente do que ele. Por
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isso mesmo
estava na própria natureza da coisa que, por toda a parte onde ele procurasse
empreender algo, sua ação não encontrasse eco, nem redundasse em êxito, mas
apenas as trevas agindo sempre hostilmente contra ele.”
(O Estranho)
“Enviado de
Deus, terá ele de passar pelas mais difíceis penúrias terrenas com uma venda
diante dos olhos espirituais, externamente como ser humano entre seres humanos.”
(O Santo Graal)
Para os seres
humanos mergulhados nas trevas, Parsival lhes parecia ser nada além de um “tolo puro”, tanto no mundo da matéria
fina como no da matéria grosseira, quando na realidade ele era o “portal puro” — o único ponto de contato
entre Deus e a obra da Criação, o portal entre
a irradiação imediata do Criador e tudo o mais que se encontra fora dela.
Sobre a
verdadeira excelsitude da figura de Parsival, diz Abdruschin na dissertação “Os
planos espírito-primordiais III”:
“…assim
podeis imaginá-lo, poderoso, senhoril, invencível, inatingível, força de Deus
personi cada, fulgor de Deus que tomou forma: Parsival, o Filho da Luz, no
espiritual primordial, no ápice da Criação! O
portal puro que se abriu do divino para a Criação, que conduz de Deus para
o ser humano!
O nome
Parsival tem, entre outros sentidos, o seguinte signi cado: de Deus para o ser humano! Ele é,
portanto, o portal ou a ponte de Deus
para o ser humano. Ele não é o tolo
puro, mas sim o portal puro da vida
para a Criação!”
E aqui, o
disparatado contraste entre a realidade e a figura de Parsival retratada nos
poemas do Ciclo do Graal:
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“Portanto, este é Parsival! O primeiro na Criação! Traz em si um núcleo inenteal de Deus, acha-se
ligado com Imanuel e assim também permanecerá por toda a eternidade, pois
Imanuel atua através dele e assim rege as Criações. Devido a isso, Parsival é o
Rei dos Reis, o Filho da Luz, também chamado o Príncipe da Luz!
Agora,
colocai ao seu lado a
gura apresentada pelos poemas! Que caricatura impossível vedes diante de vós!”
(Os planos espírito-primordiais
II)
O segundo
grande nome do Ciclo do Graal foi o alemão Wolfram von Eschenbach,
contemporâneo parcial de Chrétien de Troyes. No primeiro quarto do século XIII,
Eschenbach elaborou seu poema Parzifal, no qual descreve a falha do rei
Amfortas, ferido por uma lança.
Amfortas é o
mesmo Rei Pescador do romance de Chrétien de Troyes, que aparece aleijado e
prostrado pela paralisia, e que por isso se dedica à pesca, já que não pode
mais caçar. Além de entrar em contato com a obra de Chrétien de Troyes, o poeta
alemão colheu das mesmas elevadas fontes de seu colega francês, e seguramente
entrou em contato também com as formas de pensamento já elaboradas por aquele.
E assim ele igualmente teve Parsival como ingênuo, designando-o como “tolo puro”.
Tal como Troyes, o alemão também terrenalizou o que recebeu espiritualmente.
Questionado
sobre essa questão do “tolo puro”, Abdruschin dá o seguinte esclarecimento em
seu livro Respostas a Perguntas:
“Em todo ser
humano que pensa profundamente, a
gura apresentando ‘o tolo puro’ deve produzir uma incerteza. Essa incerteza se
manifesta porque a expressão bem como a apresentação inteira da lgura
constituem um erro, que eu fundamento nas minhas dissertações.
Essa resposta
levaria longe demais, por isso contento-me em indicar que Parsival é ‘Das reine Tor’, o portal puro, mas não ‘Der reine Tor’, o tolo puro. Nisso
reside tudo, e o saber disso também lhe dará, com um outro conceito, o sossego.
Parsival é na realidade o
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intermediário
para a Criação; portanto, também para os seres humanos, e é o Portal da Verdade
e da Vida para todas as Criações em ordem descendente.”
Na língua
alemã, o uso do pronome “das” ou “der” muda o significado do nome “Tor”.
Influenciado pela descrição e pelos pensamentos de Chrétien de Troyes, que
mostrava Parsival como um jovem completamente ingênuo, Eschenbach grafou Der reine Tor — “o tolo puro” em sua
descrição dessa personagem, pela incompreensão da missão de Parsival e, não por
último, como sempre acontece em casos assim, pela participação de considerações
do raciocínio. Tivesse ele haurido direta e exclusivamente das elevadas fontes
de transmissão da missão de Parsival e das notícias sobre o Santo Graal, sem o
concurso do intelecto, teria grafado Das
reine Tor — “o portal puro”.
Quem contesta
os esclarecimentos de Abdruschin sobre o “tolo puro” e o “portal puro”,
relacionados ao uso dos pronomes der
ou das, com a afirmação de que a
figura do “tolo puro” apareceu antes da obra escrita pelo alemão Eschenbach,
não tem nenhuma compreensão do processo de inspiração e nem de como se dá a
influência das formas de pensamentos. Também não tem ideia alguma dos
preparativos necessários à encarnação de um enviado da Luz.
Além disso, a
expressão “tolo puro”, especificamente, não aparece na obra do Chrétien de
Troyes. O que lá estão registradas são variações do qualificativo “tolo”,
escritas, aliás, em francês arcaico, medieval. As palavras originais na
história de Chrétien de Troyes relativas a esse qualificativo são: sos, fol, niche, bestiäx, as quais, no
francês moderno, são grafadas respectivamente como: sot (tolo, néscio, obtuso), fou
(matusquela, bobo), nice (negligente)
e bestial (semelhante a animal
selvagem).
Para
concluir, algumas informações adicionais que mostram como os planos mais finos
do além, e as configurações de pensamentos e intuições lá reunidas, influenciam
a atuação na matéria mais grosseira, independentemente de tempo e espaço,
bastando que haja uma conexão mais aprofundada com elas:
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No romance Perceval, de Troyes, aparece uma
personagem chamada “Gornemant”. Em Parzival,
de Eschenbach, a grafia é “Gurnemanz”, pai da moça “Liasse”. Ocorre que
Gurnemanz e Liasse existiram realmente; são figuras centrais dos últimos anos
de Atlântida, tal como descreve Roselis von Sass em seu livro sobre o tema (1). Gurnemanz
era o mentor espiritual do povo, posição mais elevada que a do próprio do rei e
a dos druidas, enquanto que Liasse era a neta do rei. No romance de Troyes, a
rainha e esposa do rei Arthur chama-se “Guinevere”. Em Atlântida, a encantadora
moça Güinever tornou-se mulher do filho do rei. Na história de Troyes, aparece
um sábio chamado Merlin. Em Atlântida, Merlin é um sábio e vidente que mora no
norte do país, atuando em nome do mentor Gurnemanz e conclamando o povo a
deixar o continente antes da catástrofe anunciada (2). Na continuação da história de
Troyes, levada a efeito após sua morte por alguns admiradores, aparece um
malfeitor denominado “Pertinax”. Na história de Atlântida trazida a lume por
Roselis von Sass, a personagem que leva o infortúnio para todo o povo atlante
chama-se Siphax, grande produtor de maus pensamentos.
Essas
interessante coincidências indicam, muito provavelmente, ligações dos autores
com o continente perdido, que submergiu há cerca de dez ou doze mil anos.
Por fim,
quando o alemão Eschenbach, em sua narrativa, apresenta a personagem Loherangrin
como “filho” de Parsival, está, sem o saber, dizendo algo bem acertado,
confirmando mais uma vez a citada frase de Abdruschin: "…contudo, em seu
trabalho de aprofundamento espiritual, colheram inconscientemente algo de
fontes que eles próprios não conheciam." Na Mensagem do Graal vemos que
Loherangrin originou-se das irradiações de Parsival, o que fez com que o poeta,
ao terrenalizar o acontecimento espiritual que hauriu, o descrevesse como “filho”
do protagonista.
http://www.library.com.br/pedrasverdade/ensaios/parsival.htm 12/13
2. A atuação de Merlin em Atlântida está
descrita na obra A antiga Babilônia de Roselis von Sass. Voltar
SOBRE O AUTOR
Roberto C. P. Junior é espiritualista, mestre em
ciências e autor dos livros: Vivemos os Últimos Anos do Juízo Final, Visão Restaurada das Escrituras, O Dia Sem Amanhã, Capotira, Jesus Ensina as Leis da Criação e O Filho do Homem na Terra, os três últimos disponíveis em edição
impressa.
Roberto é
membro da Ordem do Graal na Terra e autor de
vários artigos de cunho filosófico disponíveis no site Library.
http://www.library.com.br/pedrasverdade/ensaios/parsival.htm 13/13
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